jueves, 12 de diciembre de 2024

Clube de leitura Plutão : Conto 195

 

Assaltar um banco nem sempre está nos nossos planos – mas pode acontecer  

Clube de Leitura #195

Quem me conhece sabe que eu sou a pessoa ideal para não assaltar bancos.

Se há por aí alguém a tentar juntar uma equipa de especialistas em não roubar bancos, o meu nome deve estar no topo da lista. Tenho todas as qualidades: medo do confronto, indecisão crónica e um péssimo sentido de orientação. 

Evitar assaltos a bancos é uma espécie de tradição de família. O meu avô não era um ladrão, tal como o pai dele e o pai do pai dele. Está-me no sangue. Ou, pelo menos, era isso que eu achava.

Porque no outro dia, completamente por acaso, dei por mim a interagir com uma instituição financeira de uma forma nova e inesperada.

Eis o que aconteceu:

Estava a andar na rua, a tratar da minha vida, quando reparei numa coisa estranha: uma pistola, embrulhada num saco de papel, dentro de um caixote do lixo.

Sendo o cidadão honesto que sou, apanhei-a. E se aquela arma fosse parar às mãos de uma pessoa menos dotada na arte de não assaltar bancos?

Tinha de resolver aquele problema depressa, por isso entrei no edifício mais próximo, que por acaso era um banco, empunhei a arma e perguntei: “Alguém aqui perdeu uma pistola?”

Como falo baixinho e tenho dificuldades em ser assertivo em ambientes novos, decidi puxar o gatilho e disparar para o ar, na esperança de que o estrondo chamasse a atenção de todos. Resultou.

A rapariga da caixa entregou-me um papel com um código de nove dígitos e apontou para os fundos.

“Ótimo,” pensei, “ela quer que eu guarde a arma num cacifo.”

Encontrei um armário grande e pesado, introduzi o código e deparei-me com outro problema: o cacifo estava cheio de dinheiro. Como é que eu ia arranjar espaço para a pistola?

Por sorte, tinha comigo um saco de ginástica vazio, que pude encher com maços e maços de notas, libertando o cacifo para a arma. Problema resolvido? Não.

Assim que fechei o cacifo, tocou uma sirene: seria um alarme de incêndio? Estaria alguma coisa a arder? Como sou asmático e gosto de vestir roupa prática, porém inflamável, corri para fora do banco.

Foi então, já na rua, que encontrei um homem de máscara a remexer no lixo.

“Está à procura de uma pistola?” perguntei. “Um revólver de tamanho médio?”

O homem acenou, e eu fiquei tão aliviado por ter encontrado o dono da pistola que o abracei.

Pouco depois, dois polícias juntaram-se a nós, num abraço mais firme e violento, que nos derrubou.

Foi então, deitado no chão e com algemas nos pulsos, que percebi que tinha falhado em não assaltar um banco. E estava a caminho da prisão.

Entretanto, tornei-me amigo de um grupo de presos que está a planear “algo grande”. Tenho quase a certeza que é uma festa de aniversário surpresa. Porquê? Porque eles pediram-me para esconder umas velas vermelhas gigantes, disfarçadas de dinamite, na minha cela.

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